PIIÊ: BEBÊ É REGISTRADO COM NOME DO PRIMEIRO FARAÓ NEGRO DO EGITO, APÓS JUSTIÇA RECONSIDERAR DECISÃO
Foto: Carlos Eduardo Alvim/TV Globo
Piiê Massena Prímola. Este é o nome que está na certidão de nascimento do filho de Danillo Prímola e Catarina Prímola, registrada depois da proibição do cartório e da reviravolta do caso na Justiça. A família esteve no Segundo Subdistrito de Registro Civil das Pessoas Naturais de Belo Horizonte, na tarde desta quarta-feira (12). Lá, o casal conseguiu dar o nome do primeiro faraó negro do Egito ao filho.
“Resgatar nomes africanos é uma forma poderosa de dar uma nova narrativa para a história do povo preto. A gente tem o direito de educar o nosso filho com essa força, essa cultura e de uma forma que ele tenha uma representatividade no nome“, disse o pai.
Inicialmente, a homenagem foi barrada. O cartório não aceitou o registro por conta da grafia, e a família teve que resolver a questão na Justiça.
A juíza que recebeu o processo alegou que a criança sofreria bullying porque o nome é semelhante ao passo de ballet “plié” . O argumento não convenceu os pais do bebê.
“Sabemos que o bullying não se combate proibindo, não se combate oprimindo. O bullying se combate estudando e trabalhando a ignorância da sociedade como um todo“, afirmou Danilo.
No fim da tarde desta quarta-feira (11), a Justiça de Minas autorizou o registro do nome. A juíza responsável pelo caso reconsiderou a decisão e, apesar de ainda ponderar que a criança estará sujeita a constrangimentos, autorizou que o registro fosse realizado.
“Agora tudo vai se ajeitar. É um alivio muito grande“, desabafou a mãe de Piiê, Catarina Prímola.
Piiê, o primeiro faraó negro do Egito
O pai da criança, Danillo Prímola, contou que o menino é o primeiro filho do casal. A ideia do nome surgiu após um enredo de carnaval.
“Nós conhecemos esse nome através do carnaval de 2023. Eu sou coreógrafo da Escola de Samba Acadêmicos de Venda Nova e aí teve um enredo deles. Tinha uma palavra lá que falava sobre o faraó negro. Fomos pesquisar como que era e a gente encontrou a história do Piiê, que foi um guerreiro núbio que lutou e conquistou o Egito e se tornou o primeiro faraó negro“, contou.
De acordo com a família, o bebê já era chamado pelo nome desde quando estava no ventre da mãe.
“O chá de fraldas e revelação foram feitos assim. Todo mundo já chamava ele de Piiê. Ele era chamado assim desde o ventre da mãe“, contou o Danillo.
Segundo o pai, o casal cogitou mudar o nome do bebê ao receber a negativa do cartório e da Justiça. De acordo com ele, a proibição fez a família repensar se estava errada em homenagear o primeiro faraó negro do Egito.
“Na primeira ocasião, o cartório pediu apenas pra justificar de o porque o nome ser com dois I“, disse o pai.
Nascimento
Piiê nasceu sem grandes complicações, e a gestação da mãe, Catarina Prímola, foi tranquila durante as 37 semanas e dois dias. O bebê nasceu no dia 31 e agosto, em uma maternidade particular do bairro Grajaú, na Região Oeste de BH, pesando cerca de 3 kg.
O pequeno também pode ser considerado um “bebê arco-íris“, expressão usada para aqueles que nascem depois de uma perda. Antes do nascimento de Piiê, o casal teve uma perda gestacional, em 2020. Já em janeiro deste ano, descobriu a nova gravidez.
“Ele já era planejado, era algo que a gente queria. E nesse meio tempo ficamos sabendo da história do faraó que foi uma grande liderança negra“, afirmou o pai.
Juíza reconsiderou a decisão
Inicialmente, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) disse que a Lei 6.015/1973 prevê que “o oficial de registro civil não registrará prenomes suscetíveis de expor ao ridículo seus portadores, observado que, quando os genitores não se conformarem com a recusa do Oficial, este submeterá por escrito o caso à decisão do juiz competente, independente da cobrança de quaisquer emolumentos“.
Segundo o TJMG, de início, os pais não apresentaram, na documentação, a relação do nome a aspectos culturais e históricos por eles valorizados. “Razão pela qual a sonoridade e grafia do nome foram preponderantes para o indeferimento, visto que, seriam aptas a causar constrangimento futuro à criança“, disse a nota.
Horas depois, a Justiça informou que a magistrada responsável pelo caso reconsiderou sua decisão e, apesar de ainda ponderar que a criança estará sujeita a constrangimentos, autorizou que o registro fosse realizado.
Fonte: G1 MG