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A população idosa é mais vulnerável aos chamados medicamentos potencialmente inapropriados (MPI), que têm maior risco de causar efeitos adversos ou complicações. Isso ocorre porque, com o envelhecimento, há mudanças na forma como os medicamentos são metabolizados. Ademais, há um maior número de comorbidades e aumento na quantidade de remédios ingeridos para tratar desses problemas.
Recentemente, um estudo feito pelo Hospital Sírio-Libanês apontou que 71,8% dos pacientes com mais de 60 anos internados na unidade utilizavam ao menos um MPI. Mas estabelecer quando se trata de um MPI para determinado indivíduo não é simples e, muitas vezes, remédios nessa categoria precisam ser prescritos para melhorar a saúde e o bem-estar do paciente.
Em 2023, a American Geriatrics Society atualizou uma lista de critérios para avaliar os remédios que podem causar problemas na terceira idade. Especialistas, no entanto, ressaltam que não se trata de regras e que cada caso deve ser avaliado de forma individual por um profissional.
“Todas as drogas usadas na prática médica têm o seu benefício e o seu efeito adverso. Tentamos equilibrar esses efeitos”, diz o geriatra Frederico Ludwig, professor da Escola de Medicina da PUCRS. Ele afirma ainda que, como a população idosa tende a precisar de mais cuidado, a decisão quanto ao uso de determinadas medicações acaba sendo mais delicada.
Um exemplo são os casos de prescrição em cascata, quando novos remédios são introduzidos para tratar de efeitos provocados por outros. É preciso que o profissional da saúde fique atento à forma como esses medicamentos podem interagir, afirma o professor.
Veja abaixo categorias de MPIs que precisam ser analisadas com maior cuidado pelos geriatras.
1) Benzodiazepínicos
Esse grupo, do qual faz parte o clonazepam (Rivotril), serve para ansiedade aguda e é utilizado com bastante frequência para casos de insônia, de acordo com o geriatra Marco Tulio Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Os benzodiazepínicos são úteis e eficientes para crises de ansiedade, mas podem causar mais efeitos adversos quando usados de forma rotineira. Em idosos, esses medicamentos têm maior risco de provocar episódios de confusão mental, quedas, piora cognitiva, além de estarem associados à dependência.
2) Drogas Z
Como alternativa aos benzodiazepínicos, surgiram as Drogas Z, que servem para tratar insônia e teriam menos efeitos adversos. “Mas vemos na prática que os efeitos adversos dessas duas classes são muito parecidos”, diz o professor da PUCRS. As Drogas Z também prejudicam a cognição, aumentam a tendência de quedas e causam dependência.
3) Anti-histamínicos de primeira geração
Os medicamentos para reações alérgicas podem provocar sintomas cognitivos e sedação, o que pode levar a acidentes e quedas entre idosos. Outras gerações de anti-histamínicos trazem menos efeitos colaterais, diz o presidente da SBGG. Mas, além de serem mais baratos, os de primeira geração têm maior disponibilidade no sistema público.
4) Antidepressivos tricíclicos
Esses medicamentos diminuem um neurotransmissor chamado acetilcolina, que também está ligado à memória. “Então, as pessoas tomam a medicação e começam a ter efeitos amnésicos, cognitivos”, alerta o presidente da SBGG. Também há sintomas como boca seca e constipação (prisão de ventre).
Cintra analisa que esse tipo de medicamento deve ser usado no caso de pacientes de mais difícil tratamento. Mas, como está disponível no SUS, muitas vezes é prescrito como primeira opção.
5) Sulfonilureias
Esse grupo de medicamentos serve para tratamento de diabetes, mas tem risco de hipoglicemia e aumento de mortalidade cardiovascular no idoso, em especial a glibenclamida. A hipoglicemia, na terceira idade, pode provocar confusão mental e quedas, conta o presidente da SBGG.
6) Inibidores de bomba de prótons
Um dos MPIs mais utilizados por idosos são os inibidores de bomba de prótons, que ajudam a reduzir a acidez do estômago. O omeprazol, por exemplo, pertence a esse grupo.
Mas esses medicamentos propiciam a proliferação de bactérias no sistema digestivo. Em pacientes mais fragilizados, há chances maiores de haver pneumonia porque, em caso de refluxo, o conteúdo do estômago com as bactérias pode entrar no pulmão, esclarece o geriatra do Núcleo de Medicina Avançada do Sírio-Libanês, Pedro Curiati.
Os inibidores também podem provocar queda na absorção de vitamina B12, fundamental para o desempenho de diversas funções, inclusive cognitivas.
Diante dos riscos, o medicamento tem indicações bem definidas, diz Curiati, como em casos de pacientes que já tiveram úlcera no estômago ou que tomam remédios que provocam sangramento no estômago. “O problema é que tem muita gente que tem uma dor de estômago uma vez e usa o remédio pelo resto da vida.”
7) Anti-inflamatórios
Os anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, são de fácil acesso, já que não precisam de receita médica. Mas o uso inapropriado traz risco de lesão no estômago, úlceras e sangramento no aparelho digestivo. Há também chances de lesão nos rins e de descompensar problemas cardíacos.
Na avaliação de Curiati, o medicamento deve ser evitado e, quando necessário, deve ser prescrito com grande cuidado e apenas pelo tempo necessário. “É um remédio relativamente benigno em uma pessoa mais jovem, mas potencialmente mais problemático no idoso”, explica o médico.
8) AAS (ácido acetilsalicílico)
Para pessoas que já tiveram acidente vascular cerebral (AVC) ou que têm placas de gordura em vasos sanguíneos do pescoço, cabeça, coração ou pernas, medicamentos cujo princípio ativo é o ácido acetilsalicílico previnem incidentes de saúde e compensam os riscos. Um dos representantes do grupo é a aspirina.
“A aspirina é um dos remédios mais importantes que surgiram na medicina, salva muitas vidas”, afirma Curiati. “Mas também pode ser potencialmente inapropriado em determinadas situações”, acrescenta o médico, lembrando que aqueles que usam AAS têm um risco maior de sangramento.
Ele destaca que é preciso olhar cada caso de forma individual. Um dos cuidados para idosos que precisam da aspirina consiste em evitar anti-inflamatórios. A interação entre esses dois medicamentos pode causar danos maiores.
Fonte: Estadão