EMPRESA QUER INVESTIR R$ 1,5 BI PARA EXPORTAR FERRO DO RN PARA A EUROPA

Uma jazida de minério de ferro encontrada no Rio Grande do Norte virou a grande aposta da empresa indiana Fomento, com ramificações no Brasil e perspectiva de iníciar as explorações do minério em um intervalo de dois anos. Em fase de estudos e licenciamento, a empresa pretende investir R$ 1,5 bilhão até 2027 no RN, a fim de viabilizar toda a operação. Do montante, cerca de R$ 350 milhões já serão aplicados em 2025, em desapropriações, compra de equipamentos e contratação de fornecedores para fornecimento de água e energia para a planta. Para escoar o ferro ao longo de até 16 anos, a empresa aposta num diagnóstico feito pela própria companhia que aponta que o Porto de Natal, após readequações, pode auxiliar no escoamento para a Europa.
As explorações começaram em 2014, após a chegada da Fomento do Brasil. Desde então, foram feitas diversas pesquisas e diagnósticos no Estado, com aquisição de direitos minerários, exploração, testes, engenharia de pré-viabilidade e viabilidade para garantir que o projeto saísse do papel. O minério foi encontrado entre as cidades de Serra Caiada, Sítio Novo, Senador Elói de Souza e Lagoa de Velhos, localizados nas proximidades da microrregião Borborema Potiguar.

Antes, a Licença Prévia obtida em outubro de 2024 junto ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) previa para a jazida encontrada uma extração de 1,5 milhão de toneladas por ano. No entanto, estudos e diagnósticos de campo feitos por técnicos da empresa apontaram a potencialidade para ampliar a extração para 2 milhões de toneladas anuais, sendo necessária uma nova Licença Prévia. A solicitação foi feita em novembro do ano passado, com perspectivas de obtenção até o final de 2025 ou começo de 2026. No pedido, a empresa precisou apresentar Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O Idema confirmou o recebimento do estudo.
Temos uma licença preliminar do Idema e estamos buscando outra, porque o projeto cresceu de tamanho. Vamos produzir mais e pedimos uma adequação da licença preliminar”, explicou à TRIBUNA DO NORTE o country-representative da Fomento no Brasil, Rodrigo Bezerra Coelho Santos.

Sendo a grande aposta da empresa no mundo, o pellet feed encontrado no RN é um minério de ferro considerado diferenciado e conhecido como “minério verde”, sendo mais fino, mais rico e com baixos níveis de impurezas. O pellet feed é considerado uma matéria-prima promissora para a descarbonização do setor de siderurgia. Após processado, a expectativa da empresa é de que o grau de teor de beneficiamento atinja 67%.

“É um minério de ferro premium para ser exportado que vamos produzir e é considerado de alto teor, sendo próximo de 67% de teor de minério de ferro. Por ser de alto nível, ele tem a característica de ser utilizado com a produção do aço verde, que envolve esse tipo de minério. Nossa ideia é ser escoado pelo Porto de Natal”, explica o gerente geral do projeto Ferro Potiguar.

A perspectiva da Fomento é gerar de 4.500 empregos diretos e indiretos entre a fase de obras e operação. A empresa estima ainda que o projeto vai gerar R$ 1,5 bilhão em impostos, sendo R$ 350 milhões em ICMS, R$ 250 milhões em ISS para os municípios e o restante para a União.

“A exploração foi concluída, o que falta agora é buscarmos a licença de instalação do Idema que nos permite fazer a construção do projeto. Pretendemos conseguir essa licença de instalação no início de 2026 e concluir a construção do projeto para o segundo semestre de 2027”, acrescenta o diretor-geral da Fomento do Brasil, Rodrigo Bezerra.

O diretor explica ainda outros dois pontos sobre o projeto: o rejeito oriundo da exploração mineral não ficará armazenado em barragens, como aconteceu nos municípios de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais.

“Esse projeto de mineração não terá barragem, o rejeito é a seco. Quando o minério de ferro é extraído, ele é umidificado, e se coloca em barragens. Às vezes essas estrutura cedem quando não são bem administradas. Nosso projeto não tem barragem de rejeito, ele será empilhado como se fossem ‘tijolinhos’, não tendo nenhum risco de acidente ou vazamentos. Esse rejeito é empilhado e depois é recuperado ambientalmente”, cita, acrescentando ainda que a empresa possui altos índices de inclusão feminina nas operações, tendo 28% das colaboradores mulheres, quando a média mundial na mineração é de 17% e a nacional é de 14%.

Desapropriações são negociadas com o Incra
Para dar início às explorações e extrações do minério de ferro no Agreste potiguar, a Fomento precisará arcar com desapropriações e indenizações de agrovilas situadas nas áreas rurais desses municípios. Ao todo, serão necessárias pelo menos 240 desapropriações que estão em fase de negociação junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
“São agrovilas que estão dentro do raio do empreendimento e, por questões de segurança, por ser uma atividade mineral, essas famílias precisarão ser realocadas. Mas elas só serão realocadas quando se concluir todo o levantamento e a possibilidade de aquisição de novas áreas com toda a infraesturura necessária que elas precisam para o deslocamento”, explica Hugo Fonseca, titular adjunto da Sedec-RN.

No rol de investimentos da empresa constam pelo menos R$ 350 milhões a serem investidos no RN em 2025, com parte desse valor sendo destinado justamente às desapropriações. São três assentamentos que serão desapropriados na região. A ideia é começar esse processo em agosto de 2025.

“Todas as áreas do projeto, que eram particulares e importantes, nós já adquirimos. O que estamos trabalhando agora junto ao Incra é como trabalhar essas famílias de assentados que estão na região. Necessitamos de moradia que dê maior qualidade de vida, que dê a essas agrovilas um alto desenvolvimento social e econômico. Isso também faz parte do projeto” , acrescenta Rodrigo Bezerra, gerente geral do projeto Ferro Potiguar.
Empresa quer pátio Norte do Porto de Natal

Para viabilizar a exportação do minério de ferro para países da Europa, o plano A da Fomento é utilizar o Porto de Natal para enviar o produto para o continente europeu. A distância entre a jazida e a Europa é a melhor alternativa para o transporte do minério. A ideia é utilizar o Pátio Norte do Porto, numa área de 21.000 m² à disposição. Nesse sentido, há um processo de concessão em discussão junto ao Ministério dos Portos e Aeroportos (MPA). A expectativa é de que o leilão na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) ocorra até o último trimestre deste ano.

Segundo apurou a TN, a empresa foi autorizada pelo Governo Federal a executar os estudos referentes à possibilidade de exportar pelo Porto de Natal. Um Estudo de Viabilidade Técnico e Econômico-Ambiental (EVTEA) foi apresentado pela empresa, mostrando a efetividade da operação. Nessa semana, o estudo foi apresentado em uma audiência pública na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
Os próximos passos são a submissão de sugestões da sociedade civil para a concessão, para posterior publicação do edital de licitação.

Mesmo com a Fomento sendo a mais interessada na operação, não significa necessariamente que ela será a vencedora do processo.
O arrendamento do pátio Norte pode gerar pelo menos R$ 81 milhões à Companhia Docas do RN (Codern) num período de 15 anos de concessão. O espaço disponível para arrendamento abrange parte da região do antigo Maruim, entre o bairro da Ribeira e Rocas. O investimento estimado é de R$ 29,23 milhões, divididos em reformas, adequações, infraestrutura e equipamentos, como carregador de navios móvel, balança rodoviária, lava-rodas, pás carregadeiras e contratação de mão de obra. Há ainda a perspectiva de uma aplicação de R$ 7,2 milhões em custos ambientais e gestão de programas ambientais.

Fonte: Tribuna do Norte

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *